Comunidade do Jardim

Localizada ao litoral leste do Ceará, no município de Fortim, margeando o Rio Jaguaribe, Jardim é uma comunidade costeira estuarina e possui 560 habitantes e 162 famílias.  A comunidade, secularmente ocupada, tem um modo tradicional de vida social e econômica. A maioria da pesca e comercialização de peixes e mariscos é a principal fonte de renda de muitas famílias no Jaguaribe.

Nos anos 1970, a comunidade começou a lidar com supostos proprietários que buscavam a expulsão dos moradores do território; foi, diante dessa situação, que organizaram, em 1985, a Associação Comunitária de Pescadores. Nesse período, as pessoas que alegaram posse das terras entraram com ação contra a associação, que ainda tramita no Fórum de Fortim. Além disso, a comunidade lida com a construção de casas de veraneio em território pesqueiro e terrenos de marinha, além da obstrução do rio Jaguaribe.

A tentativa de implementação de projetos de turismo de massa, as dificuldades para desenvolvimento da pesca e a baixa valorização da produção agrícola fazem com que a juventude não demonstre interesse em manter as atividades tradicionais, pondo em risco a comunidade, o território e o movimento, já assediados pelos interesses econômicos. 

No estuário do Rio Jaguaribe, litoral leste do Ceará, os bivalves são recursos comumente coletados pelas marisqueiras, mulheres que coletam os mariscos nessa região. A coleta de moluscos representa uma atividade socioeconômica importante, contribuindo para a subsistência das famílias e comunidades que vivem no entorno dessa região estuarina. As marisqueiras do Jardim e do Jaguaribe desenvolvem múltiplas atividades na família: cuidam dos filhos e afazeres domésticos; atuam na pesca com seus companheiros, na coleta, beneficiamento e comercialização do pescado; e muitas provêm o sustento familiar por meio da mariscagem de sururu e outros mariscos.

As mulheres marisqueiras, em sua maioria, chefes de famílias, encontram, na coleta de mariscos, uma opção para levar alimento e dignidade a filhos e filhas. Essa atividade se vê, cada dia mais, ameaçada pela poluição das águas decorrente do uso de agrotóxicos na bacia do baixo Jaguaribe pela fruticultura irrigada e uso intensivo de agrotóxicos, bem como pela carcinicultura que também utiliza químicos, fungicidas, bactericidas e fertilizantes. Os contaminantes derivados dessas atividades econômicas são carreados para a região estuarina e para o mar, ameaçando a sanidade e a qualidade ambiental da biota aquática e a saúde de pessoas e dos ambientes. 

A mariscagem é realizada, preferencialmente, nos manguezais, e as mulheres ficam em contato direto com água. Trata-se de uma atividade fundamental para a sustentabilidade e a conservação da natureza, uma vez que reduz a pobreza, combate as desigualdades de gênero e possibilita a Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (SSAN) para diversas famílias. Configura-se como uma prática de resistência da vida e autonomia das mulheres. Com o crime do derramamento de petróleo, em 2019, no ambiente, as trabalhadoras estiveram submetidas a uma condição de risco à saúde e à Insegurança Alimentar e Nutricional (INSAN). 

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